A hug, quiet Luxury 🐟 Olá, Cacareco Girl
Da alfaiataria para as sardinhas, lá vamos nós!
Podemos decretar que o fenômeno Quiet Luxury ficou em 2024 e não será renovado para essa temporada, correto? Antes de fechar o caixão, queria trazer algumas reflexões aqui, pra gente fazer uma análise mais crítica do que “saí uma tendência, chega outra”.
Sempre que falamos de luxo como uma vertente ideológica, ele aparece como um catalizador de desigualdades (Russeau). Ou, em uma versão mais antiga e mais suave “algo que estimula o desejo humano, porque tudo não está acessível para todos” (Platão).
Ainda assim, segundo a nada filósofa Bain & Company (Luxury Goods Worldwide Market Study), a gracinha desse segmento cresceu 66% na última década. Porque o consumidor de classe-média passou a querer consumir e por alguns motivos que já falamos aqui - a aquisição de marcas de luxo por grandes conglomerados, muito mais focados em resultados financeiros do que em raridade e estratégias gigantes de Brand Stretching.
E o qual a relação disso com Quiet Luxury e sardinha, inferno? Vim pra uma newsletter e tô numa aula chata de adminstração?
Tô chegando lá, só é importante você lembrar que:
“Luxo” foi do produto, para a marca, para a experiência, para a pós-experiência. Além disso, temos um grau de luxuosidade (amo esse conceito, é do Bernard Dubois 1976) em categorias de produto e a moda está perdendo para arquitetura, viagens, experiências.
Quem viveu o Tiktok em 2023 não passou imune aos fenômenos #oldmoney e #quietluxury, encabeçados pela “descoberta” de uma marca exclusiva, que só os realmente ricos conheciam e usavam: a Loro Piana.
Foi um festival de alfaiataria, coque de gel, dicas de camisa de linho da Shein e “looks do dia” com blazer no auge dos 40ºC do verão brasileiro. Era unha old money, cabelo old money, carro old money…
O detalhe que passou “batido” é que A LVMH adquiriu 80% da Loro Piana 2013. Mesmo mantendo a família Loro Piana na gestão as coisas mudaram muito, o faturamento aumentou de aproximadamente 700 milhões de euros em 2013 para mais de 1,6 bilhão de euros em 2023. A presença global da marca foi de 130 lojas em 2013 para mais de 180 em 2023.
Não sei se ficou claro até aqui, mas ninguém descobriu nada. A LVMH é quem quis que a marca aparecesse - na série Succession (2018-2023), por exemplo, os membros da família Roy frequentemente usavam peças da marca. A saturação do público com logotipos e estampas chamativos, após a “popularização” das marcas de luxo também contribuíu para essa estética - efeitos colaterais do Brand Stretching que citei no começo desse post.
Mais legal do que falar que “vamos do quiet luxury para o maximalismo” é explicar o motivo disso acontecer, né?
Então, só mais uma teoriazinha, pra dar o tom: é a Trickle-down ou Teoria do Gotejamento do Georg Simmel (1904). Essa é a primeira teoria que explica um fenômeno que todo mundo conhece, mas talvez não saiba o nome - quando as classes mais altas percebem que seus símbolos de status foram "democratizados" ou apropriados por classes mais baixas, elas buscam novos elementos de diferenciação.
Como funciona:
Elite adota certos símbolos de status: tipo, harmonização facial.
Classes médias e baixas começam a imitar: subcelebridades começam a fazer procedimentos, novas clínicas surgem, ex-bbb faz publi.
Elite abandona esses símbolos: a moda agora é desarmonização, rosto natural.
Elite busca novos elementos distintivos
Depois de uma temporada OLD MONEY, com alfaiataria e cores clean. Agora você vai querer ser uma cacareco girl. Com uma casa maximalista, papel de parede de listras e muitos acessórios de sardinha. Afinal, não vai querer parecer os “pobres” comprando seus coletinhos de linho na Shein.
Começou a respirar na tendência das bolsas com chaveirinhos, que falamos por aqui. Com a leva de referências de Coreia do Sul e Japão que começamos a consumir.
Depois, uma leva de influencers gringas que passaram o verão no Brasil e começaram a usar marcas cariocas, dando a entender que esse é o jeito que as brasileiras se vestem - o nome do estilo é CAETANAS, mas, adaptado para o BR.
🚨 Se você não leu o post sobre o Adidas Samba e a Sol de Janeiro, vale a pena dar uma passada lá, pra entender esse fenômeno dos estereótipos nacionais.






🐟 Marcas: Mabô Rio, FARM Rio, BinnyWear , Rose Carmine, With Harper Lu, Nannacay, Panô.
Na sequência das caetanas, tivemos a chegada das patricinhas Argentinas - AS MILIPILIS - que inundaram nosso litoral no começo desse ano com um estilo super alegre de dia, e nada oldmoney nos looks de balada.
Você também vai começar a notar um aumento gigantesco de elementos como listras, sardinhas (objetos funky) e casas nada escandinavas. No Tiktok geral, um aumento da exposição de influenciadoras que decoram suas casas, encontram objetos inusitados em brechós e usam elementos chamativos nos looks.
E é claro, as it girls do momento: AS CACARECO GIRLS ✨
Excelente texto. Esses dias eu estava vendo uma casa bem maximalista e cheia de informações no tiktok e li os comentários de todos amando tudo. Então eu pensei: essas pessoas realmente amam tudo isso, ou gostam por estar na moda? Qual a dificuldade de gostar de coisas de forma genuína?
Sou uma pessoa meio antiga, gosto de coisas clássicas no geral, sou assim faz muito anos. Lembro de ver a explosão do Dark Academia na pandemia e de pensar: então esse é o nome do estilo que eu gosto, interessante…
De lá para cá as tendências se alteraram, e eu sigo com o mesmo estilo de sempre, pois é isso que eu gosto. Nunca deixei de comprar algo pois “fugiria da estética”, a estética sou EU. O que eu gosto combina comigo, sempre.
Não tenho nada contra as pessoas mudarem e se permitirem, mas será possível que ninguém é mais autêntico?
Vai me dizer que todas essas pessoas gostam mesmo de sardinha? Fala sério! Van Gogh ou Monet é realmente o pintor favorito de todo mundo?
Espero que as pessoas acordem um pouco e percebam que muitas vezes somos manipulados para comprar/consumir. Querem que trocamos sempre para poder jogar tudo fora e comprar novamente em uma nova “embalagem”. Quanto antes percebermos o quê de fato gostamos e do quê não gostamos, menos chances temos de cair nessas armadilhas.
Sempre fui e sempre serei cacareco girl 🤣🧡